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A DEMOCRACIA DO "CURTIR E COMPARTILHAR"

A DEMOCRACIA DO "CURTIR E COMPARTILHAR"

 

Waldney Costa[1]

Na situação atual, muitos estranham a pluralidade de ideias evocadas nas mobilizações. Penso que as ideias evocadas estão condicionadas pelo formato das redes sociais se agruparem. Engana-se quem pensa o site Facebook como uma rede social. Ele é uma plataforma de buscas, tal como o Google. Busca de redes sociais. Tais redes, também se agrupam fisicamente.

Se em um show, o cantor está três horas atrasado, alguém tem a ideia de começar a vaiar e logo as pessoas em volta começarem a “curtir e compartilhar” esta ideia e de repente grande parte do público está vaiando o atraso, tem-se uma rede social que nada tem a ver com internet. Mas atualmente, acostumou-se a tomar as redes constituídas virtualmente como sinônimo de redes sociais.

O que mudou do Diretas Já para as mobilizações atuais foi a forma das redes sociais se agruparem. Por isso prefiro chamar a mobilização atual de Vem pra Rua. Faz tempo que o Junta Brasil já estava acontecendo nas redes sociais virtuais, quando pessoas “curtiam e compartilhavam” imagens com dizeres de repúdio à corrupção, contestando aumento de tarifas, pedindo renúncia de deputados.

A grande marca dos atuais eventos é o fato de jovens pegarem estas “ideias imagem” e levarem pra rua. É isso que significam os cartazes: “saímos do Facebook”. A grande questão é que as ideias vieram para as ruas tal como estavam “juntas” na planilha virtual: de forma embaralhada. Então, se visualmente tem-se uma passeata não se sabe muito bem pra quê, virtualmente há uma marcha contra a corrupção, outra contra a PEC 37, outra contra o Renan Calheiros. Marchas não localizadas territorialmente, mas que não são menos legítimas por conta disso.

Agora, o que é mais relevante, é que os jovens foram para a rua que, em sentido político, é um lugar mais potente que a plataforma virtual. Mas as pessoas não estão acostumadas com o efeito visual de assistirem na realidade material um emaranhado de ideias aparentemente desconexas, mesmo que isso seja comum na plataforma virtual. Então, enquanto não se enxergar alguma espécie de lógica na pluralidade de ideias ali dispersas, é muito difícil que se mude alguma coisa.

Parece que alguns grupos começaram a entender isso. Sábado em Juiz de Fora, apesar de vários gritos diferentes, o grito mais ouvido foi “não à PEC 37”. Isso nada teve a ver com o jovem que gritava desesperadamente que “não é pela saúde, segurança ou educação, mas só pela PEC”, pois as pessoas se sentiram extremamente incomodadas com ele. Isso se deve ao fato de que nesta mobilização, haviam mais pessoas que “curtiam e compartilhavam” a ideia de ser contrário à PEC 37. Ao que parece, isso deu resultado.

O que se pode concluir é que se algum grupo pretende organizar as ideias, ele não deve se identificar com nenhuma instituição, mas simplesmente com as ideias, pois são elas que estão sendo compartilhadas por estas pessoas.

Devido à fragmentação de identidades, se tornou muito difícil agregar 14 mil pessoas em torno de uma única ideia. Mas nesta onda recente, se tornou fácil juntar gente que quer mostrar suas ideias. A melhor forma de ter êxito é descobrir as ideias concretas que mais são “curtidas e compartilhadas” e transformá-las nas palavras de ordem que serão gritadas.

O sentimento geral é de insatisfação e o maior exemplo iconográfico disso são os cartazes do tipo: “é tanta coisa que nem cabe no cartaz”. Do jeito que os políticos estão assustados e os ânimos alterados, será muito difícil negar alguma coisa realmente benéfica à população e não pagar o preço de ter milhares de pessoas nas ruas.

Hoje, qualquer um que tiver uma ideia e pensar que ela seja boa para o país, é impelido pelo cartaz: “Vem pra rua você também”. Pode ser que outras pessoas vejam essa ideia e comecem a “curtir e compartilhar” e ela vire realidade neste país que aparentemente estava “deitado eternamente em berço esplêndido” e agora redescobriu que “um filho teu não foge a luta”, muito pelo contrário, ele “Vem pra rua”. E na rua tem-se feito a democracia do “curtir e compartilhar”.

 



[1] Mestrando em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF como bolsista CAPES. Bacharel em Ciências Humanas (2012) e graduando em Ciências Sociais pela mesma instituição e bacharel em Teologia pela Faculdade Unida de Vitória – ES (2011). Desenvolvendo pesquisa na área de ciências sociais da religião, sob a orientação do professor Dr. Emerson José Sena da Silveira. E-mail: dnney@ibest.com.br